quarta-feira, 17 de dezembro de 2008

FÉRIAS DE NATAL

O Natal está a chegar, e vamos para fora já esta semana. Apenas em Janeiro estaremos de volta!!!!!
Mas voltamos com mais força, continuando à espera das vossas fotografias, recordações, histórias e até reparos.

A todos os Primos desejamos um Santo Natal.

De pedras fez terra - um caso de empreendedorismo e investimento (5)

2.3 - A ligação a Trás-os-Montes

O que se passou com a busca da cortiça? Depois das viagens ao estrangeiro, Clemente Meneres procurou o conhecimento do interior. No vigor dos seus trinta anos e acompanhado de um amigo conhecedor da cortiça, partiu (14.05.1874) na diligência da ex-mala posta do Porto para Bateiras e dali até Foz Côa, onde verificou que os sobreiros locais eram consumidos como lenha pelos seus habitantes. Falava-lhe o amigo de um lugar chamado Romeu, onde lhe tinham oferecido, dois anos antes, cortiça virgem para vender no Porto. Atravessaram, então, o Douro, e a 18 de Maio, chegavam ao Quadraçal, pelo Vale de Sinada, aí verificando a existência de muitos sobreiros, embora crestados pelo fogo, dado o hábito de queimadas para eliminação dos lobos e de outros animais selvagens, que atacavam com frequência os povoados e, sobretudo, os gados nas pastagens. Além disso, os sobreiros também eram aqui utilizados como lenha pela população, do que resultavam danos irremediáveis para o aproveitamento da cortiça. Chegam ao Romeu, pelas 16 horas desse dia, 18 de Maio de 1874, abancando no tasco da Maria Rita, onde não havendo nada para comer, mandam assar bacalhau, acompanhado de pão negro de centeio.

Rapidamente Clemente vislumbra que o negócio de cortiça não podia ser apenas de curto prazo, de compra e venda, mas que a estratégia correcta passava por tornar-se produtor e controlar as áreas de cultivo. Tanto mais que essa vertente podia ser ampliada com a associação de outras produções locais, como o azeite e as frutas. E havia também a possibilidade de recuperar a produção de vinho, embora aqueles lugares se apresentassem ainda dizimados pela filoxera de anos anteriores. Observavam-se ainda ruínas de instalações para produção de vinho, nomeadamente de alambiques para destilação, da época pombalina, os quais ali teriam sido implantados dada a abundância de madeira para queimar. Clemente Meneres proclama então a decisão oportuna de, em nome pessoal, “comprar por ali terras com lenha para montagem de alambiques”. Com o apoio do pároco local, não faltam pequenos proprietários a responderem a esta chamada do capital e a venderem as suas terras secas, com árvores dizimadas ou pouco produtivas em cereal.

Depois de retemperar forças, parte no dia seguinte para Mirandela, telegrafa para o Porto e pede uma carta de crédito de dois contos de réis. Mas ainda antes da partida já lhe tinham comprado as primeiras terras para ele. Com a ajuda do companheiro e do pároco local, depressa atinge 38 títulos de compra em 7 dias, voltando ao Porto e deixando aqueles ainda a comprarem por sua conta.

Quinze dias depois, volta com os corticeiros da sua fábrica, para extraírem a primeira cortiça, medida que se traduziu num desastre económico inicial, dado aqueles não perceberem nada da técnica de extracção (eram operários de fábrica, habituados apenas à transformação da cortiça) e danificarem muitas peças. Corticeiros capazes teve de os ir buscar ao Alentejo, o que passou a ocorrer com regularidade durante muitos anos. Mas a tarefa de extrair cortiça em Trás-os-Montes era difícil, dado o acidentado dos terrenos em que os sobreiros proliferavam, o que obrigava os corticeiros a utilizarem amarras pela cintura para não se despenharem pelas fragas. Acresciam depois dificuldades na condução da cortiça, normalmente feito por mulas, mas, em locais de difícil acesso, a cortiça tinha de ser transportada por mulheres, em feixes, para locais mais acessíveis, aonde pudessem chegar carros de bois, sendo necessários serviços de vigilância para evitar roubos nas pilhas provisórias que se espalhavam pelas matas. Era ainda comprada cortiça a outros produtores, mediante sinal prévio em dinheiro8. Não obstante, a cortiça, apesar dos problemas que apresentava para a sua recolha, era (e ainda é) o negócio mais rentável destas propriedades, dado o crescimento dos sobreirais se fazer quase em estado natural, sem as despesas que as outras culturas exigiam (apenas a limpeza das matas e os custos da extracção).

Desenvolveu ainda uma tentativa de criação de gado suíno trazido do Alentejo, mas tal não resultou devido às estiagens e à pouca produção de bolota, vendo-se obrigado a vendê-los para não perder todo o capital investido. Em contrapartida, multiplicaram-se rebanhos de ovinos e caprinos, não tanto como fonte de produção, mas para se oporem à penetração de rebanhos alheios nas terras próprias e assim se minimizarem os seus efeitos negativos nos rebentos de novas árvores.

2.4- Iniciativas industriais

As dificuldades iniciais não levaram Clemente à desistência, formulou mesmo projectos mais amplos, procurando ligar intimamente os produtos das propriedades transmontanas à possibilidade da sua transformação no Porto. Com efeito, na breve autobiografia, Clemente Meneres fala-nos da sua longa luta para a instalação da fábrica de conservas por esta altura, que lhe representara inúmeras canseiras e trabalhos. Assim, a firma C. Meneres & Cª bipolarizava-se: para além da sua unidade de fábrica de cortiça e de firma de comércio, procurava instalar na rua da Restauração, em espaços alugados a João Paes, uma fábrica de conservas que veio a ser conhecida como a Companhia Luso-Brasileira - Fábrica de Conservas Alimentícias.

Além disso, e pela mesma altura, encontrámos o processo relativo a um estabelecimento que caía na alçada da lei de 21 de Outubro de 1863 sobre estabelecimentos insalubres, tóxicos e perigosos por “fumo e perigo de explosão de caldeira”, pelo que necessitava de alvará. Assim, a 9 de Abril de 1875, Clemente Meneres requeria a instalação de uma fábrica de moagens de farinhas e descasque de cereais movida a vapor, a instalar ainda em Monchique: a máquina a vapor deveria ser fixa, da ordem de 30 cavalos e alimentada a carvão; os aparelhos de moagem deveriam ser seis a oito e dos sistemas mais aperfeiçoados. Correram éditos e não houve qualquer oposição pública, verificando-se apenas a exigência de garantias relativas à instalação e segurança da máquina a vapor, bem como a de elevação da chaminé um metro acima dos mais altos telhados vizinhos (9). O alvará só foi concedido em 26 de Abril de 1878. Com toda a probabilidade o projecto desta fábrica não chegou a concretizar-se, dado o envolvimento de Clemente Meneres na descoberta de Trás-os-Montes e suas consequências, nomeadamente ao nível dos conflitos na sociedade.

Na verdade, os outros dois sócios defendiam que as propriedades de Mirandela deveriam pertencer à casa comercial, pois foram adquiridas quando Clemente se deslocara em serviço da firma, tendo perdido tempo e realizado um negócio que poderia render bastante dinheiro. O desfecho levou à dissolução da sociedade, tendo-se realizado demanda e um acordo posterior homologado pelo Tribunal do Comércio: os sócios foram indemnizados por Clemente Meneres em oito contos de réis.

No próprio dia da resolução do Tribunal (9 de Março de 1876), a firma C. Meneres reorganiza-se. Clemente Meneres era agora o único sócio que restava e vai associar-se a Raul Cirne, um rapaz emancipado, menor de 21 anos, “vivendo do seu trabalho” e António Tomás dos Santos, já casado e negociante. Ficava estatuído que o objectivo da sociedade era exactamente a continuação da anterior, entrando Clemente como comanditário e com o capital de 16 contos de réis, representado pelo balanço, Raúl Cirne com 8 contos e A. T. Santos com apenas um conto de réis. A nova firma assumia o passivo e activo da anterior. E, nota curiosa, Clemente Meneres comprometia-se a vender à sociedade a cortiça dos seus sobreiros de Mirandela e Macedo, com abatimento de 5% em relação aos preços correntes naquela região, e as rolhas e cortiças lá fabricadas por sua conta seriam cedidas à Sociedade para revenda, com a comissão de 20%. Finalmente os lucros seriam distribuídos da seguinte forma: metade para Clemente e 1/4 a favor de cada um dos outros sócios (10).

A firma C. Meneres & Cª continuou o seu movimento. É certo que a fábrica de cortiça praticamente passou depois a depósito para o mesmo efeito, quando Clemente instalou a fábrica em Mirandela, junto da ribeira do Quadraçal, designada actualmente por “fábrica velha”, e enviava a produção para o Porto. Mas entretanto já funcionava a fábrica Luso-Brasileira, de conservas alimentícias, como segunda unidade da C. Meneres & Cª. Em anúncio de Junho de 1878 anunciava a sua actividade e a criação de um rede de depositários das suas “latas com peixes, carnes, frutas, legumes, doces, etc., pelos preços do catálogo”, aconselhando que era “conveniente para fazer uso das carnes e peixes, mergulhar a lata em água um pouco quente, pelo diminuto espaço de 15 minutos” (11). Segundo dados recolhidos por José Parreira, em 1878, as exportações da firma para o Brasil, tendo como destinos o Rio de Janeiro, Santos, Baía e Pará, passavam essencialmente pelo azeite e pelo vinho, mas também por pequenas quantidades de corda, cal, cestos de vime, fechaduras, ferragens, linho, fruta, palitos, rolhas, peixe, rosários e torneiras. Já para o destino europeu (Londres, Hamburgo, Gotemburgo, Estocolmo, Bordéus), a cortiça era o produto exclusivo, sob a forma de rolhas, aparas ou fardos e feixes de pranchas (12).

A 1 de Fevereiro de 1879 a firma sofria nova reorganização, continuando embora a adoptar a natureza de sociedade em comandita. Entra um novo sócio comanditário, Constantino Joaquim Paes, filho de João Paes, o primeiro sócio que se dispusera a ajudar inicialmente Clemente Meneres: este já cedera àquele parte da sua quota e agora esse aspecto ficava oficializado. A firma passa a adoptar a razão Santos, Cirne & Cª - sucessores de Paes & Meneres, “honrando desta forma o bom nome que nesta praça sempre tiveram aqueles seus antecessores”. A firma assumia-se como a continuadora da C. Meneres & Cª, cujo passivo e activo lhe eram atribuídos, ou seja, dava sequência ao mesmo ramo de comércio e à dinamização da fábrica “Luso-Brasileira”. A gerência era assumida em pleno pelos dois sócios Santos e Cirne, embora sujeitos a um conjunto
de condições. O capital, agora actualizado pelo balanço de final de 1877, atingia já os 36 contos de réis, assim distribuído: Clemente Meneres - 10048$427; Constantino Paes - 10048$425; Raúl Cirne - 10048$428; A. Tomás Santos - 5854$720.

Mas a incorporação dos lucros seguintes devia continuar a verificar-se até se atingir a cifra de 50 contos de réis, valor que passaria a representar o capital futuro da sociedade Santos, Cirne & Cª. Em caso de vantagem poderia, porém, elevar-se a 60 contos de réis só para a casa principal do edifício do ex-convento de Monchique, criando-se ainda um fundo até 20 contos de réis para a fábrica de conservas da rua da Restauração. Mas apontava-se para a gradual autonomia dos dois estabelecimentos, na certeza de que a duração da sociedade estava prevista até 1883, data em que tudo poderia ser revisto. E por acordo de 30 de Junho desse ano a cláusula relativa à cortiça de Clemente Meneres foi mesmo eliminada do contrato social, permanecendo na sociedade apenas a fábrica de conservas.

É a altura de chamar a atenção para o papel pioneiro que a fábrica “Luso-Brasileira” representou no Norte dentro do ramo das conservas, introduzindo as técnicas francesas de conservação, ou seja, o modelo Appert. Percursora da explosão do sector conserveiro, a fábrica deve o mérito da sua criação e organização a Clemente Meneres, cujo protagonismo perdeu visibilidade sob a sigla posterior de Santos, Cirne & Cª. Mas Clemente Meneres afirmava ser a “primeira que se montava no norte do país, e tantas foram as dificuldades que quase fizeram desanimar-me; se ela seguiu por diante, foi devido à minha grande insistência”.

O Inquérito Industrial de 1881 diz-nos que, por esta altura, já a fábrica tinha uma sucursal em Espinho para a preparação de sardinha em azeite. A fábrica da rua da Restauração apresentava alguma debilidade, desde logo por estar instalada numa casa de habitação alugada (inicialmente a João Paes, depois a seu filho e sócio comanditário Constantino Paes). Funcionavam duas
cozinhas e havia uma oficina de funilaria para construir e manipular as latas. Ocupava 50 operários, que subiam sazonalmente aos 120, por ocasião da colheita da fruta. Em 1880 a produção orçava o valor de 70 contos de réis, destacando-se as frutas (26,5), marmelada e geleias (8), azeitona (15), peixe (5), tomate (7) e era, em grande parte, exportada para o Brasil e repúblicas do rio da Prata. A venda no País representava apenas cerca de 10%, outro tanto a exportação para Inglaterra. O capital da sociedade subia já aos 70 contos de réis13.

O mesmo Inquérito Industrial faz referência à fábrica de cortiça do ex-convento de Monchique (também antigo armazém da alfândega), então a única existente no Porto, revelando que “todo o trabalho é manual, cortando-se as rolhas à moda nacional e à catalã. Ensaiou-se noutro tempo o fabrico mecânico, mas abandonou-se por menos perfeito e mais caro”. Tinhase, então, já vendido o motor antes existente, havendo apenas duas prensas para enfardar as pranchas, com destino à exportação para a Alemanha. A produção atingia o volume de 300 toneladas de prancha, ocupando como pessoal operário 25 homens e 2 mulheres14. A fábrica estava então em declínio, dado Clemente ter instalado unidades de transformação em Mirandela.

Os negócios do Porto estavam agora estatutariamente entregues aos dois gerentes – Santos e Cirne. Mas em 1885, a 9 de Julho, a firma altera e amplia o seu compromisso social: os sócios comanditários (Clemente e Constantino Paes) abdicam de um terço da sua quota que é assumida por Porfírio de Macedo, o qual passa a integrar os corpos gerentes15. Finalmente, a Santos, Cirne & Cª dissolve-se em 30 de Abril de 1887, por retirada amigável de Clemente Meneres, que ali deu quitação geral, por já ter sido compensado da sua participação. Todo o activo da extinta sociedade (então representado pela fábrica Luso-Brasileira e pela fábrica de conservas de sardinha de Silvade, em Espinho) passava para a nova firma de imediato constituída pelos restantes sócios, que passou a designar-se de Santos, Cirne & Macedo16.

Como muito bem salientou José Parreira17, a retirada desta firma representa para Clemente Meneres o fim de um ciclo, marcado pela associação empresarial com pessoas estranhas ao meio familiar. A partir daqui, todas as restantes iniciativas deste tipo ocorrerão em família, em associação com os descendentes.

2.5 – A fixação no Nordeste

Com efeito, Clemente Meneres, embora assegurando a retaguarda no Porto através da referida sociedade, entusiasmara-se com os negócios transmontanos, com a qualidade da cortiça dos montes graníticos do Quadraçal e as potencialidades ali entrevistas, posicionando-se então como silvicultor e lavrador, assegurando a montante a produção de bens para comercializar. Procurando a ampliação e organização das propriedades do Romeu, desde 1876 que direccionava para lá todos os seus esforços pessoais. A verdade é que, nos primeiros tempos, a sonhada ligação de produção de fruta de Mirandela à fábrica de conservas não teve êxito: das 20 mil cerejeiras mandadas plantar, poucas vingaram. A rentabilização das terras passava, então, pela autonomia dos empreendimentos. Assim aconteceu, até porque os juros dos empréstimos para os investimentos efectuados em Mirandela requeriam urgentemente retorno, sob a forma de lucros, sob pena de o sonho se esvair.

A estratégia de investimento em terras de Mirandela não foi uma opção fácil. Para comprar terras, por mais baratas que fossem, era preciso dinheiro. Clemente Meneres procurou um estabelecimento apropriado para esse efeito. Sob hipoteca, conseguiu no Banco Aliança um primeiro empréstimo em 7 de Janeiro de 1876 e outro quase dois anos depois (11.10.1877): no total, um crédito em conta-corrente, até 25 contos de réis, que foi totalmente levantado.

Em 31 de Dezembro de 1876, a propriedade agrícola era já constituída por 279 terras, respeitantes a 181 títulos de compras e distribuíam-se por Romeu, Vale do Couço, Vale de Lobo, Vale d’Asnes, Vila Verdinho e Cortiços. E depois alarga-se a outros terrenos de Mirandela, Macedo de Cavaleiros, Alfândega da Fé, Carrazeda de Ansiães e Vila Flor.

Quando não pode comprar terras (o que, geralmente, só faz em zonas inóspitas por ser terreno mais barato), opta por comprar apenas os sobreiros, em zonas de cultivo de cereais: nos finais do século, os sobreiros de Clemente Meneres eram calculados em 200.000 pés. Clemente limpa as matas, extrai cortiça, poda e limpa sobreiros, arranca matagais, veda lameiros, canaliza água, faz plantações, ergue duas fábricas de cortiça (no Carriço e na Horta da Massada), estabelece uma casa para os corticeiros no pico do Quadraçal, em Vila Verdinho, com uma visão deslumbrante sobre todo o espaço, que funciona como posto de vigia onde se estabelecem vários guardas florestais (a casa foi mais tarde ampliada).

Faz a sua casa de habitação no Romeu por fases: durante muito tempo pernoitou no tasco de telha vã e térreo do Carriço, que tinha a particularidade de ser seu conterrâneo da Vila da Feira; depois (1877) ergueu uma casa térrea, com grossas paredes e forrada a madeira, mas pequena, fiel ao ditado que tantas vezes citava - “casa que chegue e terra quanta vejas”. Só em 1884 ampliou a casa com andar superior e outros arranjos, dada a necessidade de levar consigo a numerosa família, face às temporadas cada vez mais dilatadas que passou a fazer no Romeu, para acompanhar mais de perto os investimentos a introduzir nas propriedades, melhorando os sobreirais e plantando vinhas e olivais.

Um investimento significativo cuja evolução se pode observar, segundo as próprias anotações de Clemente Meneres (Quadro I).

Quadro I
Investimentos de Clemente Meneres em Mirandela

Anos Propriedades Deslocações Salários e
Construções

1874-76 10908$455 1884$590 1943$980
1877 1108$810 424$000 5362$810
1878 813$485 222$250 3209$545
1879 598$760 231$040 2979$525
1880 1413$205 335$100 2922$615
1881 1565$925 312$100 4579$570
1882 3471$560 396$000 4980$500
1883 4180$010 377$300 6980$940
1884 7994$520 383$000 8630$000
Total 32054$730 4564$380 1589$495

E agora, o que faltava ? Mais dinheiro para investir e fazer girar o negócio. Em 2 de Julho de 1885 faz um contrato com quatro bancos para a abertura de um crédito de 90 contos de réis, ao juro de 7%, com hipoteca de todas as suas terras no Nordeste Transmontano. Foi comparticipado da seguinte forma:

Banco Aliança................................................... 37300$000
Banco Mercantil Portuense............................. 9000$000
Nova Companhia Utilidade Pública ............. 19300$000
Caixa Filial do Banco Lusitano...................... 24400$000

O empréstimo devia ser amortizado em seis prestações anuais a iniciar em 1886 e “em bom metal ouro e prata corrente nestes Bancos”.

Mas é preciso notar que só com muita fé se podia ter avançado nesta aventura que, no princípio, apenas fornecia débitos demasiados para um pequeno negociante isolado. Na verdade, no mesmo dia em que Clemente Meneres fazia o contrato com o sindicato bancário acima referido, via-se na necessidade de renovar a dívida anterior, acima referida, datada de 1876. Sem pagar amortizações nem juros, aquele débito elevava-se já a 39104$678 réis. E o Banco Aliança impõe: amortização em 7 prestações anuais a partir de 31.10.1886, com importâncias progressivas (a primeira de 2 contos, as quatro seguintes de 5 c., depois uma de 6 c., outra de 12104$678), para além de uma final para solver os juros entretanto acumulados. Contratos estes que, apesar de tudo, revelam uma grande capacidade negocial e a demonstração pública de respeitabilidade empresarial, enfim, crédito na praça. A cortiça era a base e a esperança de todas estas operações, pois o vinho e azeite constituíam investimentos a prazo para se tornarem lucrativos.

Em 1893, a propriedade fundiária de Clemente Meneres atingia uma área considerável, distribuindo-se, embora de forma dispersa, por uma extensão de 27 quilómetros. O problema do escoamento dos produtos era, no entanto, quase insolúvel para a região transmontana, mesmo quando houvesse acesso a canais de distribuição. Os custos e a morosidade, esta fatal para determinadas produções como a fruta, tornavam difícil qualquer projecto comercial. Aprendendo a partir da experiência própria, Clemente Meneres rapidamente percebeu que nenhum negócio seria viável se não conseguisse para ali um caminho-de-ferro. O mesmo percebera Fontes Pereira de Melo quando em 1878 visitou aquelas paragens e prometera então empenhar-se por uma linha de caminho de ferro para Mirandela, ao longo do Tua, como forma de combater o isolamento18, tendo o seu governo apresentado um projecto para o efeito na Câmara dos Deputados. Não admira que Clemente Meneres aderisse, então, ao fontismo, e se declarasse como regenerador, passando a desenvolver uma forte campanha em prol da construção da linha do Tua, sobretudo porque não se dava andamento àquele projecto.

Aproveitando a conjuntura da construção do caminho-de-ferro do Douro, estando em debate o projecto do seu prolongamento para Salamanca, surge-lhe uma ideia luminosa, ainda que pouco ortodoxa. Diz-nos: “principiei a luta em 1881 para 1882, imaginando telegramas dos povos transmontanos (que se não mexiam), afirmando que se sublevavam pelo facto de os poderes públicos se não preocuparem nunca com a desgraçada província onde eu vim bater”.

Telegramas e artigos de opinião (escritos pelo genro, sob sua indicação) e representações assinadas pela Câmara Municipal de Mirandela ou por grupos de negociantes do Porto foram transcritos em jornais de Lisboa e Porto, conseguindo atrair as atenções e criando opiniões favoráveis ao caminho-de-ferro do Tua. A procura de quintas em Trás-os-Montes para pessoas gradas da política que lhe solicitaram ajuda trouxe-lhe aliados inesperados na pressão política para a apresentação do respectivo projecto ao Parlamento (levada a cabo pelo ministério de Hintz Ribeiro). Mas a campanha para o comboio do Tua tornou-se também uma luta afectiva e de afirmação local, não se podendo esquecer que Clemente Meneres casara em segundas núpcias com uma senhora de Mirandela.

Note-se, entretanto que o primeiro concurso (decreto de 29.9.1883) ficara deserto, por haver garantias reduzidas para o capital a investir. Foi nesse contexto que Clemente contactou hipotéticos construtores: a conhecida casa dos irmãos Pereire, em França, e Henry Burnay, em Lisboa, este seu antigo vizinho de Monchique e colega da praça do Porto. Fez pressão junto de deputados, promovendo reuniões para o efeito mesmo na capital. E face às dificuldades aventadas por Henry Burnay em assumir uma linha de via estreita de apenas 55 quilómetros, Clemente Meneres e o grupo de novos proprietários da zona organizaram um grupo para assumir a responsabilidade pela sua construção (concorrendo com base no orçamento de 22999$500), embora no concurso a arrematação acabasse por ser feita pelo marquês da Foz, que organizou uma companhia para a exploração daquela e de outras linhas. Em 27 de Setembro de 1887 a linha do Tua (até Mirandela) era inaugurada com a presença do rei D. Luís, e na bandeira da locomotiva o nome de Clemente Meneres estava inscrito com o de um grupo de pessoas que tinham sido decisivas para o projecto, embora na altura ele tivesse partido mais uma vez para o Brasil para tentar salvar os seus negócios que andavam aziagos. Note-se que o troço até ao Romeu (13 Km) foi mais tardio, ainda demorou 18 anos, inaugurando-se apenas a 2 de Agosto de 1905.

Em todo o caso, a firma Clemente Meneres está sediada por alguns anos no Romeu, na propriedade que denominou significativamente de Jerusalém. Por ali tinha a fábrica de cortiça, cuja produção exportava principalmente para a Alemanha e Brasil, recebendo deste último ainda importantes encomendas de azeite em almotolias, para além dos vinhos tratados que enviava para Gaia. Nos finais de 1886, uns meses antes da inauguração da linha do Tua, a propriedade agrícola de Mirandela estava estabilizada, tinha a produção organizada, e apresentava resultados positivos, embora o escoamento dos produtos apresentasse alguns problemas, em face da conjuntura depressiva que se fazia sentir nas praças comerciais. Se seguirmos uma memória do filho José Meneres, ficamos a saber que, no jantar de final desse ano, Clemente brindava como de costume ao saldo positivo e aos filhos que ali o ajudavam (Alfredo, o organizador da contabilidade, e Agostinho), prometendo-lhes, além do ordenado, uma participação nos lucros futuros:

“Então o Alfredo, agradecendo-lhe em improvisado discurso, foi dizendo com grande emoção que ele e o irmão estavam com vontade de trabalhar e prosperar e que aquela vida aqui não oferecia futuro, que o Pai ainda estava novo e que os três deveriam pensar em ir para o Porto, de onde poderiam vir aqui amiudadas vezes, por que o caminho de ferro em breve ia ser inaugurando, proporcionando viagens rápidas. Ao Pai vieram-lhe as lágrimas aos olhos e nada respondeu, mas no dia seguinte, ao jantar, onde estavam todos, disse: - Estou pensando no que ontem o Alfredo disse, ele tem razão. Vou amanhã ao Porto, a casa de Monchique que está arrendada a vários inquilinos vai ser despejada e a arranjarei e adaptarei a nossa moradia e em alguns dos armazéns se montará a fábrica de rolhas e se aumentará com outros negócios que desenvolveremos”.

O interior transmontano não convencia a geração mais nova! Dois meses fazia-se a mudança.
Clemente manda arranjar a sua casa de Monchique, nos seus 5 andares, consegue um comboio especial (antes ainda da inauguração) do Romeu até ao Tua, onde depois tomaram outro comboio para o Porto, transportando a família, operários e máquinas, montando de novo a fábrica de rolhas num dos armazéns do ex-Convento. Em face da necessidade de ampliar os negócios, organiza mostruários da sua produção própria e parte de novo para o Brasil e Rio da Prata, atravessando mais uma vez o “charco” Atlântico, que os homens de oitocentos tratavam familiarmente.

2.6 - A sociedade familiar

Na volta do estrangeiro, Clemente Meneres reorganizou o estabelecimento, constituindo sociedade com os filhos Alfredo e Agostinho, em face do dinamismo revelado durante a sua ausência: cria então a firma a Clemente Meneres & Filhos, nela integrando todas as propriedades do Porto e Trás-os-Montes. O edifício do ex-convento de Monchique foi ampliado, de forma a
incluir a residência e as instalações para a sociedade comercial, alugando ainda a terça parte que lhe não pertencia. A parte oriental do ex-convento passa a albergar as duas principais actividades - a fábrica de rolhas de cortiça e um armazém de vinhos e outras bebidas, estas com uma grande variedade de marcas e géneros, desde vinho do Porto, moscatel e malvasia e licores diversos, tanto de produção própria como de produção alheia. Anúncios, de produção artística, apresentavam a firma como fornecedora da Casa Real e costumavam apresentar referências relativas às distinções obtidas nas exposições internacionais: Filadélfia 1876, Paris 1889, Lisboa 1884. Uma das marcas de vinho do Porto tinha por designação “Dom Luiz”, com autorização expressa do rei D. Carlos para o efeito.

O Inquérito Industrial de 1890 apresenta a componente fabril da firma como tendo um capital fixo de 50 contos de réis e circulante de 20 contos. Nela trabalhavam 29 operários e 11 operárias durante todo o ano (290 dias), com 10 horas diárias e 140 serões anuais (média de 3 horas)19.

Na exposição industrial de 1891, realizada no Palácio de Cristal, a sua participação na 2ª classe de expositores, relativa a produtos da indústria florestal, mereceu palavras de destaque no relatório final. O Conde de Samodães, na introdução geral aos relatórios das diversas classes, afirma:

“Como indústria particular avantajava-se a cortiça da casa Meneres & Filhos, na calçada de Monchique no Porto. A casca do quercus suber ali nos aparecia sob todas as formas, desde a rolha, que é a sua principal utilização, até ao rendilhado primoroso do quadro oferecido à simpática Rainha a Senhora D. Amélia”.20

Entretanto, o investimento da sociedade alargava-se a outras áreas. Por exemplo, em 1890, a firma Clemente Meneres & Filhos participava na sociedade em comandita Sousa Santos & Irmão, para o estabelecimento de uma fábrica de fundição que adquiriram a John Ayres, em Miragaia (Monte de Judeus). Uma sociedade prevista para durar oito anos, realizada com os dois irmãos Sousa Santos que ficavam como gerentes e com uma quota de 500$000 réis cada, enquanto a Clemente Meneres & Filhos e ainda Henrique Pinto Alves Brandão participavam com 3500$000 réis cada, perfazendo assim um capital social de 8 contos de réis. Estes dois sócios comanditários retirariam anualmente as suas partes de lucro, enquanto os sócios gerentes, para além da retirada mensal de ordenado, capitalizariam os seus lucros até que o capital respectivo igualasse o dos comanditários21. Um exemplo que nos mostra a proliferação de firmas a partir da confiança dos já estabelecidos em elementos promissores mas sem capital, permitindo-se que estes o realizassem gradualmente através da acumulação de lucros, tendo como contrapartida a garantia do seu interesse no bom andamento da firma.

E, no campo do giro comercial, chega a vez dos filhos irem também ao Brasil e ao Rio da Prata, primeiro Alfredo, depois Agostinho. A sociedade procurava marcar posição nos mercados sul-americanos, conseguindo sobretudo exportações de rolhas e azeite, só a exportação de vinhos se revelava mais difícil na conjuntura dos anos imediatos à constituição da empresa.

Em 1895, Clemente Meneres realizou a sua última viagem comercial à Palestina, Síria e Egipto e aí, perante as descobertas arqueológicas que visitou, deixou-se impressionar pelo sentido de finitude das coisas, através da observação das maravilhas de estatuária, decorações, etc, de há milhares de anos, símbolos de civilizações que se aniquilaram umas às outras e que agora só valiam como vestígios de épocas de ouro. A possibilidade de o esforço e a entrega da sua vida se transformar rapidamente em arqueologia produziu-lhe angústia. Com efeito, o curto ciclo de vida das empresas comerciais e industriais também o preocupava, sobretudo encarando, como o fazia, o seu empreendimento de Mirandela mais com o coração do que com a razão. Isso levou-o a pensar em reestruturar de novo a firma existente, dando-lhe nova configuração jurídica, reduzindo a sua participação e colocando as propriedades transmontanas de fora. Tendo falecido a primeira esposa e chegada a ocasião de partilhas, dá-se a ocasião para a organização de uma nova firma, em 1895: Meneres & Cª., que representa o alargamento da anterior à filha Leonor (representada pelo marido Joaquim Barbosa) e ao filho José (que, com 19 anos, volta de Inglaterra, onde estudava, para trabalhar na sociedade).

Clemente Meneres reduziu substancialmente o seu capital na Meneres & Cª, com a retirada das propriedades transmontanas, acabando mesmo por sair do negócio mais tarde, dando a ideia de que só se manteve para credibilizar o empreendimento (que se anunciava como prosseguindo a actividade iniciada em 1867 por Clemente) e lançar os filhos no meio empresarial, embora alguns já estivessem perfeitamente integrados vida social. A Meneres & Cª, que lhe pagava uma renda de quatro contos pelas instalações de Monchique enquanto lá esteve, comprometeu-se a adquirir toda a cortiça do Romeu. Mas, em 1897, a firma Meneres & Cª, ao que parece, por não poder aguentar por mais tempos “os constantes vexames aduaneiros que sofriam por terem os seus armazéns dentro de barreiras, pelas constantes verificações de manifesto, resolveu construir armazéns fora de barreiras, em Matosinhos e assim, saindo de Monchique, separou-se de Joaquim Barbosa que ficou com a fábrica, mudando-a para a Alfândega Velha, sob a razão de Barbosa & Cª, em comandita, porque entramos para seu sócio para o ajudarmos com algum capital” (Palavras proferidas no Romeu em 18.5.1954 por José da Fonseca Meneres).

A sociedade Meneres & Cª ergueu em 15 meses, na zona então conhecido por Prado, à entrada de Matosinhos, os armazéns e oficinas da firma, com uma ocupação de 11.000m2, para ali transferindo, nos inícios de 1899, os depósitos de vinhos até então observados no ex-convento de Monchique. O estabelecimento de Matosinhos, hoje em ruínas e à espera de recuperação, era então considerado modelar: com dois pisos ao longo dos seus 150 metros e com alguns torreões que subiam aos três pisos, agregava escritórios já com máquinas de escrever, gabinete de provas e análises, armazéns de vinhos em semi-cave para garantir temperaturas baixas, incluindo uma cisterna especial e filas de tonéis, com armazéns para os diversos tipos de vinhos, secção de engarrafamento, depósito de recepção com bomba eléctrica de trasfega ligada a uma rede de tubos, carpintaria mecânica, caldeira a vapor para accionar motores e um dínamo para produção de electricidade, levando até ao seu interior o transporte por carros de tracção eléctrica em colaboração com Companhia Carris, com ligações à rede geral (nomeadamente, a Alfândega e o porto de Leixões). A Meneres & Cª, que deu continuidade à exportação de vinhos para o Brasil, iniciando também remessas para as colónias africanas, deu origem, em 1905, à Companhia Vinícola do Porto (tendo José Meneres como director e Alfredo Meneres a Presidente do Conselho Fiscal), passando em 1908, a designar-se de Companhia Vinícola Portuguesa (houve litígio com a designação).

Deixando o negócio do Porto seguir o seu rumo pela iniciativa dos filhos e do genro Barbosa, Clemente Meneres pôde entregar-se totalmente ao Romeu e à actividade de produção das três produções tradicionais: cortiça, vinho e azeite.

Pouco depois, porém, da criação da firma Barbosa e Cª, verificaram-se dificuldades desta sociedade na aquisição de toda a cortiça, o que levou de novo Clemente Meneres a activar nova fábrica de rolhas em Mirandela, no largo do Toural, a qual passaria, mais tarde, para Monchique, para o edifício do ex-convento.

sexta-feira, 5 de dezembro de 2008

De pedras fez terra - um caso de empreendedorismo e investimento (4)

Revista da Faculdade de Letras, HISTÓRIA
Porto, III Série, vol. 8,
2007, pp. 113-155


Jorge Fernandes Alves
Professor catedrático da FLUP

Não se chegou a “exarar escrito ou escritura d’ essa sociedade”, mas a 10 de Abril de 1874, fez-se escritura de cessão e trespasse da quota de João Paes a Clemente Meneres, este já na qualidade de sócio e único gerente da sociedade que começa a girar sob o nome de C. Meneres e Cª . A firma Paes & Meneres era, deste modo dissolvida, mas o trespasse era avaliado em 28 contos de réis. Para esse efeito foram apresentadas oito letras de 3500$000 réis que seriam sacadas uma a uma e (sensivelmente) de seis em seis meses, a partir de 2 de Outubro de 1874, o que se prolongava até 2 de Janeiro de 1878. A verba do trespasse de apenas uma das quotas dá-nos uma ideia do volume de negócios realizado e do nível elevado de capitalização alcançado pela firma Paes & Meneres (6).

A C. Meneres & Cª. traduzia a natural continuidade destes negócios, tendo a sociedade anterior sido apenas dissolvida dada a retirada natural (por idade avançada) do sócio mais velho e capitalista. Integravam agora a firma Joaquim Silvano Filho e Álvaro Carneiro Geraldes, este com origem numa tradicional família de comerciantes do Porto com grande ligação ao Brasil.

De resto os negócios com a ex-colónia, que constituíam o grande suporte das exportações, estavam sempre sob mira: logo a 24 de Abril de 1874, a firma passa procuração ao sócio Álvaro C. Geraldes como seu representante no Rio de Janeiro, o qual para lá se deslocou, e, na sua falta, à casa Norberto Coelho & Cª, estabelecida no Rio (7).

A C. Meneres & Cª surgiu durante vários anos nos almanaques como “fábrica de rolhas para exportação, trabalho braçal e a vapor”, no cais da Alfândega 17, ou seja, na parte oriental do edifício do ex-convento de Monchique, então arrematada em hasta pública.

Importa aqui recordar que o convento de Monchique, fundado em 1575 foi, durante muito tempo uma importante instituição monástica franciscana com ocupação feminina: ao tempo de Rebelo da Costa (1788), tinha 70 freiras e mais de 100 serventes. Com a extinção das ordens religiosas, em 1834, foi incorporado nos bens da Coroa, sendo usado para diversos fins: arsenal militar, casa da moeda da Junta da Patuleia (onde se cunharam os patacos), depósito do trem militar e da pólvora, repartição de obras da alfândega e armazéns. Uma parte era administrada pelo ministério da guerra, outra pelo do reino e outra pelo da fazenda. A igreja foi desmantelada (um altar foi para a igreja de S. Mamede de Infesta, outro para a Igreja de S. Pedro de Miragaia e outro para o Hospital Militar D. Pedro V). Foi posto em praça várias vezes por inteiro, mas como ninguém o arrematava, em 1874, foi mais uma vez leiloado em 5 lotes. Foi nessa altura, que Clemente Meneres e Norberto Coelho arremataram dois lotes (nºs 1 e 5) para a sua casa comercial (mais tarde Clemente assumiu a quota de Norberto). Os outros foram arrematados por William Wawke (nº 2), que instalou lá uma fundição, e Henry Burnay (nºs 2 e 3). Na mitologia do convento, andará sempre associada a trama do romance Amor de Perdição, pois a personagem Mariana recolhe a este convento após o desenlace da sua história de amor.

Nos finais de Abril de 1874, a firma C. Meneres & Cª estava organizada. Um dos três sócios assegurava o expediente na sede, o outro deslocou-se ao Brasil, nomeadamente para controlar e ampliar as exportações. E Clemente Meneres procuraria potenciar os ganhos a montante, assegurando o abastecimento de matéria-prima (cortiça) a preços e quantidades mais convenientes. Ampliar e diversificar era a etapa seguinte, incluindo-se nesta diversificação a preparação de outras unidades fabris que permitissem abrir o leque das exportações, nomeadamente a instalação de uma moagem e da fábrica de conservas alimentícias.

domingo, 30 de novembro de 2008

De pedras fez terra - um caso de empreendedorismo e investimento (3)

Revista da Faculdade de Letras - HISTÓRIA
Porto, III Série, vol. 8,
2007, pp. 113-155

Jorge Fernandes Alves
Professor catedrático da FLUP

2.2 - O retorno e estabelecimento comercial no Porto

Em 1863, ou seja, apenas quatro anos depois da sua chegada ao Rio, aceita o desafio do sogro que retornava a Portugal e acompanha-o, crente na promessa de ajuda financeira para cá se estabelecer. Então, apesar de apenas estar ligeiramente “abrasileirado”, cumpre os rituais dos “brasileiros” de retorno do Porto oitocentista: vivendo com o sogro na rua da Torrinha, “d’alli ia todos os dias com elle até á Praça Nova, de chapéu do Chili, feito Brazileiro, mas sem vintém, entreter conversa com os que de lá vinham”.

Uma vez no Porto, o pai, preocupado, tratou de apressar-lhe o estabelecimento comercial, arranjando-lhe sócio. Na altura de solicitar os 3 contos de réis prometidos anteriormente pelo sogro, este, talvez por se sentir ultrapassado, negou-se a cumprir a promessa, dando-se a ruptura familiar e a mudança de domicílio. Vê-se obrigado a arranjar casa, apoiado apenas nas 100 libras (450$000 réis.) que, apesar de tudo, o sogro lhe facilitou, como adiantamento da herança que a mulher viria a receber, exigindo-lhe documento escrito para esse efeito. Clemente procura emprego, tentando capitalizar o saber-fazer adquirido como caixeiro no Rio de Janeiro, pondo para efeito um anúncio no jornal “como indivíduo sabedor de escripturação por partidas dobradas”. Conseguiu um lugar que o remunerava em cerca de 250$000 anualmente.

Pouco depois o pai anunciava-lhe que arranjara um sócio capitalista, João Joaquim de Paes, da Vila da Feira mas residente no Porto, que se propunha adiantar três contos para a constituição da sociedade, a qual funcionaria com “interesses divididos ao meio e uma retirada, por mim, para minhas despesas, de 30$000 réis”. Na realidade, João Paes adiantou um conto em dinheiro e uma letra de dois contos, aceite por outro comerciante, mas que foi sucessivamente reformada, pois Clemente evitou sacá-la para não criar constrangimentos financeiros, usando-a apenas como garantia. A entrada de capital de Clemente era insignificante, tendo correspondido apenas ao saldo do balancete (cerca de 116$000 réis, correspondente a alguns móveis), vindo depois a crescer com a capitalização proveniente da sua quota nos lucros. Note-se que muitas empresas da época funcionavam deste modo: havia um sócio capitalista que fornecia o capital para giro e um sócio trabalhador, este sem capital ou com uma parcela insignificante, que depois poderia ir dilatando à medida dos lucros repartidos. E é por esta altura, provavelmente mesmo por ocasião da constituição da firma, que Clemente passa a integrar no seu nome próprio o apelido Meneres, em busca de uma identidade própria: por soar melhor e com mais raridade ou para afastar a ligação que o “Guimarães” inevitavelmente arrastaria com o “brasileiro” da rua da Torrinha, seu tio e sogro, com quem se malquistara?

Nos almanaques da época vamos, assim, encontrar a firma Paes & Meneres, com porta aberta na rua da Ferraria, na qual aparecem simultaneamente como negociantes e como fabricantes de rolhas com depósitos de cortiça para exportação. No campo comercial, a firma anunciava vários tipos de drogas, desde enxofre, “cimento romano”, petróleo, aguardente, genebra, sumagre, baga de sabugueiro, pês louro e soda. Vendendo para a cidade e para província, estendeu os seus negócios ao Brasil e a alguns países europeus, para onde envia produtos tradicionais, sobretudo vinho, rolhas, palitos e ferragens para o Brasil, frutas para a Alemanha, França, Inglaterra. Desses tempos heróicos da iniciação, guardava boas recordações, face ao “extraordinario movimento a que dava causa esse pequeno capital. No fim do primeiro ano, o capital primitivo quase que dobrou”.

Movimento que Clemente procurou orientar sobretudo para a exportação, “por toda a parte onde o permitia a navegação, que nessa época era bem limitada”, mas principalmente para o Brasil. Foi por isso que, em 1872, convenceu o sócio a deixá-lo ir a este país, mostrando-lhe as vantagens da ligação directa numa área em que os comissionistas ganhavam a parte de leão. Com seis malas de amostras, percorreu o Brasil e as Repúblicas do rio da Prata em seis meses, utilizando-se do transporte em 14 vapores, para regressar “cheio de ideias novas, de novos negócios, preocupando-me a montagem de uma fábrica de conservas”, segundo as suas próprias palavras. No ano seguinte, de viagem à Exposição Universal de Viena, estabelece ligações em Hamburgo, onde consegue vender azeite para a Rússia. Depois de estar 14 dias em Viena para visitar a exposição, passou depois pela Holanda, Bélgica e Inglaterra, onde estabeleceu contactos vários, em especial com os corretores de vinho do Porto, em Londres, para cuja finalidade recebeu a ajuda da casa local Pinto Leite & Sobrinhos, de quem Clemente era agente no Porto. Revela, assim, uma vocação comercial de andarilho, indo ao encontro de novos clientes, não parecendo fadado para os esperar atrás do balcão.

sábado, 29 de novembro de 2008

De pedras fez terra - um caso de empreendedorismo e investimento (2)

De pedras fez terra - um caso de empreendedorismo e investimento
agrícola no Nordeste Transmontano (Clemente Meneres) (2)

Revista da Faculdade de Letras HISTÓRIAPorto, III Série, vol. 8,2007, pp. 113-155

Jorge Fernandes Alves
Professor catedrático da FLUP


2 - Trajectórias de Clemente Meneres

A explicação original da Sociedade Clemente Meneres, Lda remete-nos, pois, para a personalidade de Clemente Meneres e para o seu percurso na constelação empresarial do Porto dos finais do século XIX. Clemente surge-nos como um protagonista, tanto no quadro das tradicionais relações comerciais luso-brasileiras, como em situações de inovação no tecido económico do Norte, evidenciando o efeito de estímulo que o mercado brasileiro ainda exercia sobre a apertada malha empresarial nortenha.

Quem era? Donde vinha? Como se ajusta o seu percurso às circunstâncias da época?
Servindo-nos de um texto autobiográfico2 como guia e de documentos complementares (3) podemos esboçar alguns aspectos da sua trajectória empresarial.

Clemente Joaquim da Fonseca Guimarães, nasceu a 19 de Novembro de 1843, no lugar da Cruz em Vila da Feira, sendo baptizado sete dias depois4. Na Feira frequentou as aulas do mestre régio local. Era filho de pais lavradores e industriais, na complementaridade típica do artesanato do Norte, pois, além de cultivarem os terrenos agrícolas de que eram proprietários, possuíam uma serralharia que ocupava na ocasião cerca de 40 operários, na qual Clemente iniciou a sua aprendizagem, Recorde-se que a Feira era, nos meados do século XIX, a zona de maior concentração de ferragens ao redor do Porto, vendendo para esta Cidade a maioria da sua produção, grande parte da qual seguia depois o caminho da exportação para o Brasil. A oficina da família, especializada em fechaduras, não fugia a esta regra, mas, perspicácia de rapaz, enquanto o intermediário responsável pela exportação ostentava riqueza, a vida do pai de Clemente não passava da mediania. Representação que ficaria para sempre, levando-o a nunca querer abandonar a actividade de distribuição, especialmente a da sua própria produção.

2.1 - O Brasil como destino

Em 1859 recebe-se em casa a tradicional carta do “tio brasileiro” estabelecido no Rio de Janeiro, que, pretendendo regressar a Portugal, desejava antes passar o negócio a dois sobrinhos, um dos quais já estava com ele, sugerindo portanto a ida de outro. Passar a casa comercial a portugueses, de preferência ex-caixeiros experimentados, como forma de prolongar o negócio e obter uma renda periódica na sua retirada, era hábito nos negociantes portugueses do Brasil.

Diz-nos Clemente que então se entusiasmou, sentindo o apelo do Brasil, apesar da oposição paterna inicial, e a 4 de Julho desse ano, com 16 anos incompletos, embarcava na galera “Olinda” que largava da barra do Douro. Quarenta e um dias depois arribava ao Rio de Janeiro e procurava a casa do tio. Estava já a loja em liquidação, pois o tio mudara de ideias, por se ter desavindo com o outro sobrinho. De qualquer forma, o tio levou-o à sua chácara no Catumbi, onde foi apresentado à família (mulher e um casal de filhos) e se iniciou no tradicional prato de feijão preto e carne seca. Voltou depois ao armazém, onde passou a trabalhar e dormir, ali passando cerca de um ano até à liquidação final do estabelecimento. Mas o tio arranjou-lhe nova ocupação, casando-o logo (aos dezoito anos) com a prima Maria da Glória, cumprindo assim outro hábito arreigado dos comerciantes portugueses ali residentes: chamar os sobrinhos com o objectivo de lhes passar a loja de comércio (o que aqui só não aconteceu aqui por circunstâncias fortuitas) e casá-los com as suas filhas, canalizando os filhos próprios do sexo masculino para outras actividades (5).

De feitio indomável, Clemente tentou a independência económica do sogro, que o procurava enquadrar nos trabalhos agrícolas da chácara. Assim, arranjou por si próprio emprego em novo armazém do Rio de Janeiro (30$000 réis mensais de início, 100$000 réis ao fim do primeiro ano já como primeiro-caixeiro, sem esquecermos que estas verbas deveriam ser em moeda brasileira ou “fraca”, equivalendo a cerca de 50% em réis portugueses ou “fortes”). Tratava-se agora da casa comercial de mais um emigrante do Porto ali estabelecido, ligado à família Serpa Pinto, que, como norma habitual, dava preferência no emprego aos portugueses chegados de fresco.

sexta-feira, 28 de novembro de 2008

De pedras fez terra - um caso de empreendedorismo e investimento

Gradualmente será colocado aqui um trabalho de investigação realizado na Universidade do Porto, tendo como base, a figura de Clemente Menéres. É o texto mais completo que conheço.

Foi publicado na Revista da Faculdade de Letras ( HISTÓRIA )
Porto, III Série, vol. 8,2007, pp. 113-155

É seu autor o Sr Professor Jorge Fernandes Alves, Professor catedrático da FLUP

"De pedras fez terra - um caso de empreendedorismo e investimentoagrícola no Nordeste Transmontano (Clemente Meneres) - parte 1

O presente artigo ilustra um caso de empreendedorismo centrado sobre o Nordeste Transmontano, em Mirandela e terras vizinhas, desenvolvido por um ex-emigrante do Brasil, Clemente Meneres, desde cerca de 1870. Depois de várias experiências empresariais no Porto, concentrou a sua acção na aquisição de terras para a produção de cortiça, azeite e vinho, recuperando áreas que estavam abandonadas, organizando depois, em 1902, a Sociedade Clemente Meneres, Limitada, que se tornou num modelo regional de exploração agrícola, a qual tem permanecido como propriedade familiar e mantido a sua actividade até à actualidade.

1 - Introdução

Se no distrito de Bragança houvesse mais alguns homens como o snr. Clemente Meneres, a transformação agrícola seria rapidamente profunda. Consola, contudo, apresentar aos nossos conterrâneos o exemplomais salutar de trabalho inteligente e fecundo que apareceu em Trás-os-Montes no século XIX. Oxalá que as gerações futuras se inspirem em tão nobre exemplo de trabalho.
Meneses Pimentel, Portugal Agrícola, vol. XIV, ano 1902/1903

“Jóia de família” é uma expressão consagrada na literatura, mas que se ajusta também a uma das perspectivas com que, no prisma da realidade, podemos encarar a Sociedade ClementeMeneres, Limitada, empresa criada em 1902. A analogia ocorre quando focalizamos a empresa na sua espessura histórica, quando lhe descortinamos os princípios fundacionais e acompanhamos os valores subjacentes à sua gestão.

A formação da empresa radica numa aventura empresarial muito peculiar do fundador que lhe deu a designação social, centrando-se na exploração de um conjunto de terras em Mirandela e em outros concelhos vizinhos do Nordeste transmontano e num agrupamento de edifícios em Miragaia (Porto), estes derivados do ex-convento de Monchique. A gestão da sociedade, assumida, ao longo do tempo, por diferentes personalidades da família, surge eivada de um sortilégio especial, em que a memória do fundador funciona como factor intangível que se funde com a ambiência de uma sentida e profunda ligação à natureza que o Romeu, as matas do Quadraçal ou as vinhas de Monte-Miões proporcionam em todo o seu esplendor.

Dos passos primordiais de Clemente Meneres à actualidade muita história correu. Criada em plena monarquia, a Sociedade Clemente Meneres, Lda atravessou múltiplas conjunturas, de diferente feição, umas mais favoráveis ao seu tipo de negócio, outras francamente desfavoráveis, preparando-se, agora, para funcionar em tempos de globalização, procurando fazer sentir a sua especificidade local, numa altura em que toda a actividade empresarial assume contornos mais fluidos e incertos. Radicada no interior profundo de Portugal, a Sociedade está habituada a aproveitar as frestas de comunicação que se lhe oferecem: cortaram-se as suas propriedades nos inícios do século passado para lá passar o comboio da linha do Tua, ligando-a ao Porto, rasgaram--se de novo agora, em tempos recentes, para dar passagem à rodovia do Itinerário Principal nº 4 (IP4), o que pode constituir um bom indício.

Pela sua própria designação, a empresa remete-nos para um homem e para a sua vontade. A Sociedade representa a vontade de Clemente Meneres, que, em 1902, chamou a si os filhos para, em conjunto, garantir duração ao conjunto de bens que, durante anos, adquirira e organizara, impondo-lhe um novo modelo empresarial – a sociedade por quotas, dispositivo jurídico introduzido por lei de 1901. E o pacto social apontou uma ousada proposta de duração: um século. Tempo indeterminado, decidiram mais tarde os sucessores, alterando para o efeito os estatutos, prolongando no tempo a vontade do fundador, a grande razão para que a empresa subsista na sua configuração tradicional.

Mas a vontade de um homem, fielmente guardada e desenvolvida pelos seus sucessores, pode não ser suficiente para fazer perdurar uma empresa, que, pelos valores que envolve e pelos custos que implica, tem de funcionar no mercado com princípios de racionalidade económica. São estes princípios que os sucessores, respeitadores do passado mas já afastados do voluntarismo fundacional, tiveram de aplicar sucessivamente, sob pena de tudo se esvair.

O presente artigo, extracto de um trabalho mais vasto, procura delinear e enquadrar a iniciativa empresarial que a Sociedade Clemente Meneres, Lda. configura, evocando a trajectória do fundador e os primeiros ciclos de gestão no jogo do mercado e das flutuações económicas."

quarta-feira, 26 de novembro de 2008

Quem é o Pedro Bento d'Almeida?

Do 1º seguidor atento deste Blog, recebemos a sua ligação a Clemente Menéres.
Alguém quer dar mais uma achega e começar a fazer as ligações entre os membros da família?

PEDRO BENTO D’ALMEIDA

FILHO DE: Maria do Carmo Fontes Menéres Duarte Pacheco casada com João Paulo Póvoas Bento d'Almeida

NETO DE: Maria José Fontes Menéres de Castro casada com Alfredo Duarte Pacheco

BISNETO: Ferdinando Menéres de Castro casado com Julieta Ferreira Fontes

TRINETO: Ana da Fonseca Menéres casada com Manuel de Castro Junior


Para contactos com o blog, aqui fica o e-mail:

clementemeneres@iol.pt

domingo, 23 de novembro de 2008

Alguem sabe responder ao Pedro Bento d'Almeida?

Hoje tivemos o primeiro comentario ao nosso blog.
Aqui fica o texto do Pedro Bento d’Almeida.
Confesso com alguma surpresa, que nunca pensei que a 1ª pessoa a visitar-nos fosse um jovem de 14 anos.
Creio que será um bom princípio.

Continua a mandar informações e a dar notícias, para clementemeneres@iol.pt


"Bom dia Menéres!

O meu nome é Pedro Bento d’Almeida e sou também sou descendente de Clemente Menéres. Ultimamente tenho despertado imenso interesse na família do lado da minha mãe, Fontes Menéres.
Tenho 14 anos e adorava conhecer melhor ClementeMenéres e o seu ultimo nome.
Gostava também de poder comentar os posts do vosso blog, pois só os seus criadores podem....
Aqui vão algumas noticias relacionadas com a nossa familia e o Romeu. Vai também um excelente album de fotografias do convento de Monchique.

Aqui vai também a página do Geneall de Clmente Menéres, com a sua descendência quase completa. Faltam os seus antecedentes... gostava de compreender porque é que nas fontes, nessa mesma página, se encontram “Anuário da Nobreza de Portugal – 2006” e “A Descendência do 1º Barão e 1º Visconde de Alpendurada”.

http://www.geneall.net/P/per_page.php?id=59202

http://sic.aeiou.pt/online/scripts/2007/videopopup2008.aspx?videoId={647B1D72-1556-40C9-9577-FE4DB2422C96}

http://sic.aeiou.pt/online/noticias/programas/ir/Artigos/Ir+Lobo+Iberico+e+Jerusalem+do+Romeu.htm

http://amen17.no.sapo.pt/Album-Convento%20de%20Monchique/index.html

sexta-feira, 21 de novembro de 2008

Do site http://mjfs.wordpress.com/2008/05/05/ retiramos este texto e fotografia referente ao edifício da Real Companhia Vinícola que foram mandados construir, em 1897, por Menéres & Cª.

Antigo Edifício da Real Companhia Vinícola - Matosinhos

O primeiro Plano de Urbanização da então Vila de Matosinhos, previa a ocupação do Areal do Prado com uma malha ortogonal regular composta por quarteirões rectangulares e é num destes quarteirões do Plano que iria surgir o edifício da Real Companhia Vinícola, grandes armazéns de vinho que foram mandados construir, em 1897, por Menéres & Cª. Este excelente edifício fabril foi precisamente a primeira unidade industrial a ocupar aquela zona, constituindo-se em foco de atracção para as futuras unidades industriais. Deste modo se explica, também, que a artéria então aberta e que servia a fábrica tenha sido baptizada como Avenida Menéres topónimo que ainda hoje possui.
Durante anos ponto de referência absoluto na paisagem e na vida dos matosinhenses, a “Real Vinícola” é o conjunto industrial cujos limites de implantação correspondem aproximadamente à malha estipulada pelo Plano original da ocupação do areal, de autoria de Lícinio Guimarães. De facto, a partir daí ele vai sofrer algumas alterações, diferindo do modelo projectado.
Por ter sido a primeira instalação industrial implantada na área, a “Real Companhia Vinícola”, construída entre 1897 e 1901, apresenta um processo construtivo bastante diferenciado das contíguas construções industriais posteriores, caracterizadas pela utilização do betão e asnas metálicas.
Construídos em alvenaria de pedra, com cobertura de telha, assente em asnas de madeira e pilares de ferro forjado no corpo principal, os edifícios da Real Companhia Vinícola dispõem-se no perímetro do quarteirão, deixando no interior um enorme pátio, onde a linha férrea tinha o seu términus e onde se dispunham os dois armazéns/depósito ainda existentes.
Revelando soluções fortemente inspiradas nos modelos ingleses das primeiras explorações agrícolas industrializadas, com um acentuado contraste entre o exterior e o interior, na “Real Vinícola” “os grandes telhados cobertos em telha, apoiados em pilares e travejamento de madeira, as altas paredes em pedra, a clara distinção entre os corpos a que correspondiam diferentes funções, tudo sugere uma granja. Só que aqui, celeiros, adegas, lagares, etc. estão concentrados, criando um volume compacto que não unitário”.
Estas instalações, contudo, não eram fábricas no sentido estrito do termo. De facto, funcionavam mais como armazéns onde se procedia à análise química laboratorial, à rotulagem, embalagem e expedição de um produto natural que, afinal, não ali totalmente transformado. Importa, contudo, salientar que o edifício possui uma das primeiras estruturas fabris a vapor da região: uma tanoaria a vapor.
Extinta a sociedade Menéres &Cª, em 1905, as suas marcas de vinho do Porto, espumosos e de mesa continuaram a ser comercializadas pela “Companhia Vinícola Portugueza” que possuía sede no Porto.
Não há notícias que o edifício original tenha sofrido grandes alterações, registando-se apenas uma ligeira ampliação ainda em 1903, através da qual é implantado um pequeno torreão num dos extremos da fachada voltada para a Avenida Menéres, e obras de decoração na fachada em 1929.
Não obstante o seu encerramento, nos anos 30, a “Real Vinícola” continuou a manter, embora de forma indirecta, uma ligação estreita à história da evolução urbana da cidade. É que a construção das docas do porto de Leixões, implicando o desaparecimento de todas as edificações junto às margens em Matosinhos e Leça da Palmeira, fez com que uma grande parte da população ribeirinha até então aí residente se visse privada das suas habitações. Neste contexto a “Real Vinícola” funcionou, durante vários anos, como refúgio/albergue desses desalojados. Curiosamente, várias décadas depois, na sequência da descolonização, voltaria a desempenhar as mesmas funções em relação a retornados das ex-colónias portuguesas em África.
Hoje, o edifício ou, mais precisamente, o conjunto de edifícios da Real Companhia Vinícola apresenta-se abandonado e desocupado.

quinta-feira, 13 de novembro de 2008

"Romeu: no reino dos Menéres"

Aqui fica mais um artigo retirado da internet, este sobre os Menéres e o Romeu

in: http://www.diariodetrasosmontes.com/reportagem/index.php3?id=57


Romeu: no reino dos Menéres


"Percurso de família benfeitora é inseparável da história da freguesia As casas e edifícios pincelados em tons de amarelo parecem pertencer à beleza natural da localidade. Cores que fazem parte da actual história e ajudaram a construir um passado que levou o nome de Jerusalém do Romeu, no concelho de Mirandela, pelo mundo fora. Atravessada pela antiga linha de comboio, a localidade parece ter saído directamente de um livro de contos, em que os benfeitores ajudam os mais necessitados e apoiam a construção duma aldeia que ficará para sempre ligada ao seu nome.De passagem pela região, um grande negociante agrícola, Clemente Menéres, apaixonou-se por Romeu e deu início a um enamoramento que perdura há mais de 130 anos, atravessando cinco gerações. Oriundo da Vila da Feira, Clemente Menéres, negociante de vinhos e cortiças no norte da Europa e Brasil, chega a Romeu para comprar sobreiros (que até à data não tinham muito valor), criando, deste modo, a Quinta do Romeu, à qual se seguiria a Sociedade Clemente Menéres, Lda.Durante a sua vida, o negociante construiu, ainda, uma escola primária, assegurando os salários dos professores. A sua influência e pressão foram, também, importantes para que o comboio passasse por Romeu, onde chegou em Agosto de 1905.Após a sua morte, o filho José continua o seu trabalho enquanto benfeitor, fundando a Cooperativa Por Bem (que abastecia os habitantes locais com mercearia) uma Casa do Povo com consultório médico, farmácia e biblioteca, onde também se fez teatro e passaram filmes. A José Menéres sucede o seu irmão, Manuel, responsável pela melhoria de condições de vida das populações de Vale de Couço, Vila Verdinho e Romeu. O descendente cria uma creche, um jardim-de-infância, recupera a antiga estalagem Maria Rita, onde o seu pai chegou a ficar instalado, transformando-a em restaurante e o Museu de Curiosidades. Volvido mais de um século desde que o primeiro do clã Menéres passou por Romeu, a população continua a recordar os actos de generosidade e as obras criadas por esta família.Romeu é conhecida pelo património, antiga estação de caminhos-de-ferro, restaurante Maria Rita e Museu de CuriosidadesO peculiar nome da freguesia de Romeu, que integra as aldeias de Vimieiro e Vale de Couço, deve-se à Ordem do Hospital de São João de Jerusalém, mais tarde conhecida como Ordem de Malta, que ali teria uma dependência na época medieval. De passagem pela localidade, o Museu de Curiosidades é um ponto de paragem obrigatório. Recheado com objectos antigos recolhidos por elementos da família Menéres, o espaço permite conhecer antigos documentos deste núcleo, bem como carros, aparelhos de música e cinema, roupas, máquinas fotográficas, relógios e máquinas de costura, entre outros. Os curiosos podem, ainda, visitar o santuário dedicado a Nossa Senhora de Jerusalém (que deu o nome à propriedade dos Menéres), construído a pedido de uma pastora, a quem a Santa apareceu. Trata-se de um belo templo, enriquecido por um lago e paisagens soberbas. As igrejas da freguesia e cruzeiros também merecem a paragem de qualquer visitante."

sábado, 8 de novembro de 2008


Do mesmo Blogue "Ruas da minha terra", retirei esta fotografia da rua Clemente Menéres.

in http://ruasdoporto.blogspot.com/2006/12/rua-clemente-menres.html

Rua Clemente Menéres

Rua Clemente Menéres, no Porto

Visitando o blogue "Ruas da minha terra" (Porto), verifiquei que no artigo referente à Rua Clemente Menéres, não aparece nenhuma referência à personalidade que lhe deu o nome.

Mas vale a pena consultar o blogue e ver a origem dos nomes das ruas da cidade.

Aqui fica o texto:

in
http://ruasdoporto.blogspot.com/2006/12/rua-clemente-menres.html

"Rua CLEMENTE MENÉRES
Já se chamou rua do Paço e Praça do Duque de Beja.Tem o nome actual pelo menos desde 1945. "

sexta-feira, 7 de novembro de 2008

Documentário realizado há 40 anos estreia este sábado

Alguém viu? Creio que terá passado em Serralves Sábado último...

in http://sic.aeiou.pt/online/noticias/cartaz/Documentario+realizado+ha+40+anos+estreia+este+sabado.htm
"Publicação: 31-10-2008 12:05

Manoel Oliveira em Serralves
Documentário realizado há 40 anos estreia este sábado"


"Quando Clemente Meneres chegou a Trás-os-Montes, dizia-se por terras do Romeu, Mirandela, que andava por ali um louco a comprar pedras e fragas. A história inspirou um documentaário de Manoel Oliveira que estreia este sábado em Serralves
Lusa

Mas onde todos viam apenas terras incultas, este homem da Vila da Feira fez nascer uma sociedade agrícola familiar, que prospera há quatro gerações e que mudou a vida de três aldeias transmontanas, umas delas retratada por Manoel de Oliveira no filme que estreia sábado em Serralves, depois de 40 anos guardado. O nome Meneres é para as gentes do Romeu, Vila Verdinho e Vale de Coiço sinónimo de progresso, que transformou estas pequenas localidades em "aldeias melhoradas" e foi agregando milhares de hectares de terras que se estendem por oito dos 12 concelhos do Distrito de Bragança. "Ainda me lembro bem da festa", disse à Lusa Fernando Aurélio, hoje com 69 anos, um jovem quando o então presidente da República, Américo Tomas, inaugurou, em 1964, as obras de melhoramento. As cozinhas tisnadas pelo fumo ganharam chaminés e a alvura da cal, as paredes foram rebocadas e pintadas, os compartimentos vazios ganharam mobílias e até roupa de cama foi distribuída à população. Ao todo foram melhoradas 138 casas, numa empreitada que incluiu calcetamento de ruas, estradas, uma ponte e captações de água. O autor destas obras já foi o filho de Clemente, Manoel Meneres, depois de o pai ter iniciado as benfeitorias com a escola primária ou a casa do povo com farmácia, teatro, biblioteca e médico. O bisavó foi o pioneiro e o avô o obreiro, como diz João Pedro Meneres, continuador e actual gestor da sociedade Clemente Meneres e Filhos, fundada há 106 anos. O pacto social foi pensado para esta sociedade nunca saia da família. Só os descendentes directos é que podem ser sócios e trabalham exclusivamente com capitais próprios, sem recurso a crédito. A sociedade emprega 40 pessoas permanentemente, mais os postos de trabalho sazonais para a apanha da azeitona, vindima e cortiça, a tríade de culturas que se estende do Azibo, em Macedo de Cavaleiros, até ao Douro, em Carrazeda de Ansiães. A cortiça segue para o mercado da rolha e o vinho e o azeite são marcas desta sociedade exportados com o nome "Romeu" para vários países. São também atractivos no restaurante que há décadas está na família e ajudou a sustentar algumas das obras sociais como a creche e o infantário que construíram na aldeia. O restaurante era a estalagem da senhora Maria Rita, a única que existia na altura e onde Clemente Meneres chegou numa tarde de Maio de 1874 e mandou servir o bacalhau que ainda hoje faz a fama deste estabelecimento, que mantém o nome da primeira dona. O edifício foi recuperado mantendo a traça original como toda a envolvente da aldeia em que sobressaem os granitos das construções numa zona que já viveu das pedreiras. "O seu avô era um homem 'daqueles homens'" diz Augusto César a João Pedro, ele que o conheceu dos muitos anos em que foi feitor na casa Meneres. Os melhoramentos nas aldeias foram feitos do bolso de Manoel Meneres e quando o dinheiro começava a escassear aproveitava as visitas de Lisboa para conseguir algum apoio. As empreitadas eram feitas apenas com esboços feitos por Manoel Meneres e executados pelo carpinteiro "Zé Silva". "Ás vezes saía melhor que a encomenda", conta João Pedro Meneres, apontando para os esboços que estão expostos no Museu das Curiosidades da família, onde é possível encontrar relíquias os primeiros Ford que Clemente Meneres começou a importar para Portugal, as charretes que calcorrearam a quinta ou as albardas para senhoras. Dos muitos países para onde viajou nos negócios de importação e exportação dos mais variados produtos ficaram também recordações a juntar a raridades como uma máquina de música com quase 150 anos, uma piano com uma opera de Verdi em cartões ou as máquinas de projecção de cinema que passaram as últimas fitas na casa do povo do Romeu. "

Clemente Menéres e sua família

A partir de uma ideia da Clara Menéres, este blogue foi criado unicamente com o intuito de recolher e partilhar informações sobre a familia e descendentes de Clemente Menéres.

Apenas se vai manter aberto, até ao dia em a Clara crie definitivamente o blogue MENÉRES, sendo todo o material aqui postado transferido para o definitivo.

Trata-se de um espaço a ser partilhado por todos aqueles que usam o apelido Menéres ou seus amigos.

O nome Menéres, sempre me despertou curiosidade. As histórias fantásticas que ouvi contar na infância sobre o "trisavô" Clemente, homem com uma visão avançada ao seu tempo, criaram em mim uma curiosidade por tudo quanto lhe dizia respeito.

Assim, gostaria de saber noticias da família, do nome, do Romeu, de Monchique, da Sociedade com o seu nome, e tudo quanto possa interessar ao tema.

Serão aqui colocadas informações retiradas de livros, da internet ou apenas de memórias. Todos os textos ou fotografias aqui colocadas, deverão ser bem identificadas quanto à sua proveniência e da responsabilidade do seu autor.

Assim, queridos primos, mãos à obra.