sexta-feira, 21 de novembro de 2008

Do site http://mjfs.wordpress.com/2008/05/05/ retiramos este texto e fotografia referente ao edifício da Real Companhia Vinícola que foram mandados construir, em 1897, por Menéres & Cª.

Antigo Edifício da Real Companhia Vinícola - Matosinhos

O primeiro Plano de Urbanização da então Vila de Matosinhos, previa a ocupação do Areal do Prado com uma malha ortogonal regular composta por quarteirões rectangulares e é num destes quarteirões do Plano que iria surgir o edifício da Real Companhia Vinícola, grandes armazéns de vinho que foram mandados construir, em 1897, por Menéres & Cª. Este excelente edifício fabril foi precisamente a primeira unidade industrial a ocupar aquela zona, constituindo-se em foco de atracção para as futuras unidades industriais. Deste modo se explica, também, que a artéria então aberta e que servia a fábrica tenha sido baptizada como Avenida Menéres topónimo que ainda hoje possui.
Durante anos ponto de referência absoluto na paisagem e na vida dos matosinhenses, a “Real Vinícola” é o conjunto industrial cujos limites de implantação correspondem aproximadamente à malha estipulada pelo Plano original da ocupação do areal, de autoria de Lícinio Guimarães. De facto, a partir daí ele vai sofrer algumas alterações, diferindo do modelo projectado.
Por ter sido a primeira instalação industrial implantada na área, a “Real Companhia Vinícola”, construída entre 1897 e 1901, apresenta um processo construtivo bastante diferenciado das contíguas construções industriais posteriores, caracterizadas pela utilização do betão e asnas metálicas.
Construídos em alvenaria de pedra, com cobertura de telha, assente em asnas de madeira e pilares de ferro forjado no corpo principal, os edifícios da Real Companhia Vinícola dispõem-se no perímetro do quarteirão, deixando no interior um enorme pátio, onde a linha férrea tinha o seu términus e onde se dispunham os dois armazéns/depósito ainda existentes.
Revelando soluções fortemente inspiradas nos modelos ingleses das primeiras explorações agrícolas industrializadas, com um acentuado contraste entre o exterior e o interior, na “Real Vinícola” “os grandes telhados cobertos em telha, apoiados em pilares e travejamento de madeira, as altas paredes em pedra, a clara distinção entre os corpos a que correspondiam diferentes funções, tudo sugere uma granja. Só que aqui, celeiros, adegas, lagares, etc. estão concentrados, criando um volume compacto que não unitário”.
Estas instalações, contudo, não eram fábricas no sentido estrito do termo. De facto, funcionavam mais como armazéns onde se procedia à análise química laboratorial, à rotulagem, embalagem e expedição de um produto natural que, afinal, não ali totalmente transformado. Importa, contudo, salientar que o edifício possui uma das primeiras estruturas fabris a vapor da região: uma tanoaria a vapor.
Extinta a sociedade Menéres &Cª, em 1905, as suas marcas de vinho do Porto, espumosos e de mesa continuaram a ser comercializadas pela “Companhia Vinícola Portugueza” que possuía sede no Porto.
Não há notícias que o edifício original tenha sofrido grandes alterações, registando-se apenas uma ligeira ampliação ainda em 1903, através da qual é implantado um pequeno torreão num dos extremos da fachada voltada para a Avenida Menéres, e obras de decoração na fachada em 1929.
Não obstante o seu encerramento, nos anos 30, a “Real Vinícola” continuou a manter, embora de forma indirecta, uma ligação estreita à história da evolução urbana da cidade. É que a construção das docas do porto de Leixões, implicando o desaparecimento de todas as edificações junto às margens em Matosinhos e Leça da Palmeira, fez com que uma grande parte da população ribeirinha até então aí residente se visse privada das suas habitações. Neste contexto a “Real Vinícola” funcionou, durante vários anos, como refúgio/albergue desses desalojados. Curiosamente, várias décadas depois, na sequência da descolonização, voltaria a desempenhar as mesmas funções em relação a retornados das ex-colónias portuguesas em África.
Hoje, o edifício ou, mais precisamente, o conjunto de edifícios da Real Companhia Vinícola apresenta-se abandonado e desocupado.